Edição 141 – 2013
Aplicação mais precisa
Flávio Bosco
 


Segundo o filósofo Hans Jonas, “o futuro da humanidade é o primeiro dever do comportamento humano coletivo na era da civilização técnica, que chegou a ser onipotente de modo negativo. Não está aqui explicitamente incluído o futuro da natureza como condição sine qua non; mas ademais, independentemente disso, o futuro da natureza é de sua responsabilidade metafísica, uma vez que o homem não só se converteu em um perigo para si mesmo, mas também para toda a biosfera”. Podemos afirmar, então, que o agronegócio brasileiro está buscando diminuir seu impacto negativo no meio ambiente, ainda que a produtividade seja meta primeira.

E o setor de herbicidas e fitossanitários vem trabalhando para que os produtos tenham cada vez mais uma ação mais seletiva, para que sejam utilizados em menor quantidade e ao mesmo tempo maximizando os resultados, já que são posicionados para controles específico de pragas e plantas daninhas, sem perder de vista a preservação do meio ambiente e a saúde dos trabalhadores. Os herbicidas representam cerca de 16% do custo na época da soqueira e, no ciclo todo, chegam a 12% dos custos – investimento obrigatório, que exige, além de um bom produto, aplicação correta. E não apenas os produtos estão mais certeiros; a aplicação de cada um começa a ter particularidades e mesmo os pulverizados podem atingir áreas maiores em menos tempo. Toda essa atenção e pesquisa vem em boa hora já que o setor atinge quase nove milhões de hectares de cana plantados no país. Então, no fim das contas, o produtor pode fazer tudo certinho mas se não usar o herbicida correto, sua produtividade vai cair muito rápido, podendo inviabilizar o investimento como um todo.

Coisa do passado? 30% dos canaviais estão em condições precárias, abandonados, transformando- se em lugar perfeito para fortificar plantas daninhas e pragas. E um lugar desses só pode ser usado, após ser bem tratado, depois de dois anos... Mas nada tem apenas um lado. As recentes práticas (boas) de abandono das queimadas e de deixar a palha no solo para protege-lo criaram uma barreira para os herbicidas pré-emergentes porque eles não chegam ao solo, o que facilita o crescimento das plantas daninhas – corda de viola, voadeira, mucuna preta, mamona, tiririca e outras – que sempre existiram nos canaviais, mas que percebem o momento da palhada como ideal para sua proliferação, comprometendo em até 30% o rendimento da área. Nunca aparecem sozinhas e têm aproveitado para ganhar terreno. Bom frisar que as colhedoras ajudam a espalhar essas sementes – ressalte-se então a extrema importância da regular limpeza de todas as máquinas que vão ao campo.

E ainda muitas das plantas invasoras são trepadeiras que competem com a cana pelo sol e podem gerar quedas de produtividade que chegam a 25%. E essas plantas estão preparadas para dormir até seis meses, às vezes um ano, até germinar! As pesquisas continuam mas, se uma colhedora deixa 12% de palha nos canaviais, metade disso poderia ir para a indústria gerar energia e essa redução do colchão de palha facilitaria o controle das plantas daninhas - quase 70% dos herbicidas aplicados hoje vão sobre a palha, então é natural que os questionamentos e inovações rondem esse item que deve ainda levar em consideração a época – por causa da temperatura e umidade –, o potencial de germinação e a agressividade das plantas infestantes.




Com precisão
 

Entra nesse cenário a Agricultura de Precisão que, segundo o técnico da Embrapa, Ricardo Inamasu, é uma postura gerencial que leva em conta a variabilidade espacial da lavoura para aumentar o retorno econômico e reduzir o efeito ao meio ambiente. Entra aí o georeferenciamento para ajudar. Ou seja, a lavoura tem “manchas” e o que se busca é tomar proveito dessas diferenças que existem no campo, do solo ou por imagens via satélite. Esse raio-x permite ações imediatas para corrigir os problemas encontrados porque a equipe vai ao local georreferenciado e o analisa, elaborando relatório com a solução. Jener Fernando Leite de Moraes, pesquisador do Instituto Agronômico - IAC, define georreferenciamento como uma técnica que permite obter as coordenadas de localização geográfica de um objeto qualquer, seja ele os vértices de uma propriedade, os pontos de amostragem de solo, ou até mesmo o local de operação de uma máquina agrícola.

No caso de imóvel rural, desde 2001 a Lei Federal 10.267, exige o georreferenciamento de todo imóvel rural para inclusão da propriedade no Cadastro Nacional de Imóvel Rural - CNIR, condição necessária para que se realize qualquer alteração cartorial da propriedade. Mas o termo “georreferenciamento” é mais amplo, do que apenas o cumprimento legal dessa legislação. Qualquer estudo, ou atividade, que se faça na propriedade e na qual se faça o seu registro, por exemplo, com um equipamento de posicionamento global - GPS, é também um georreferenciamento. Por exemplo, muitas usinas elaboram o levantamento do perímetro das áreas cultivadas com cana, com equipamentos GPS e transferem esses dados para sistemas computacionais, que permitem o gerenciamento de todas as atividades por propriedade e por talhão. Todo o planejamento – desde o preparo do solo, plantio, tratos culturais até a colheita – é gerenciado por programas de computador e como tudo está georreferenciado, todas as atividades são planejadas e analisadas espacialmente. No caso da colheita mecanizada, as máquinas agrícolas são dotadas de sistemas GPS que registram a posição geográfica da máquina em intervalos de tempo e também a quantidade de cana colhida.

O GPS faz o georreferenciamento da colhedora, ou seja, sua localização dentro do talhão. A partir do processamento dos dados obtém-se um mapa que mostra a variabilidade da produtividade dentro de uma área. A partir dessa informação é realizado todo o gerenciamento do talhão, visando otimizar a produtividade na próxima safra. Esses estudos se encaixam dentro do conceito de Agricultura de Precisão, que surgiu nos EUA no final dos anos 80 e no Brasil, em torno de 10 anos depois. “Existem vários estudos com georreferenciamento em cana. Desde aqueles voltados ao cumprimento da legislação, ou seja, georreferenciar os limites do imóvel rural para posterior obtenção do CNIR, até trabalhos voltados a otimização das atividades operacionais na cultura. Empresas de topografia e mapeamento realizam os trabalhos de georreferenciamento para fins de obtenção do CNIR. Empresas que prestam serviço de Agricultura de Precisão oferecem pacotes tecnológicos para serem usados nas atividades de mecanização da cultura. universidade e instituto de pesquisa desenvolvem trabalhos para avaliar a eficiência dessas técnicas de georreferenciamnto. O IAC, por exemplo, desenvolve pesquisas de georreferenciamento para fins de mapeamento de solo e ambientes de produção de canade- açúcar. O trabalho consiste na elaboração de mapas de solo detalhado e posterior indicação dos ambientes de produção de cana-de-açúcar. A usina recebe para cada imóvel, mapas com a distribuição espacial das classes de solo e dos ambientes de produção.

O ambiente de produção indicará as variedades de cana mais apropriadas em função das características físicas, químicas e climáticas de cada região”, explica Jener. O georreferenciamento ajuda num melhor gerenciamento das atividades agrícolas, desde o preparo do solo, plantio, manejo da cultura, colheita e transporte. A usina consegue identificar e avaliar regiões de maior o menor produtividade, fazer ajustes necessários nas práticas de manejo, identificar falhas nas etapas de colheita e transporte da cana e agir com maior precisão na correção das mesmas.

Nas imagens de satélite, as áreas dos canaviais podem ser marcadas em relação a quantidade de biomassa, - quantidade de cana na área. Esse olhar abrange toda a área, não apenas o em torno dos talhões, e mostra com mais clareza não apenas áreas com problemas de desenvolvimento mas também se as áreas estão correspondendo ao esperado. E se a Harpia, na mitologia, é uma ave de rapina com rosto de mulher e na América Latina, é o nome de um gavião que vê muito bem das alturas e ataca com rapidez e precisão, na Basf, é o projeto de monitoramento de biomassa de Cana-de-açúcar Via imagem de Satélite. “A Harpia tem um olhar preciso e aguçado e isso remete exatamente ao que oferecemos: um serviço que permite identificar, através de imagens de satélite, áreas com baixa biomassa. Hoje esse serviço é exclusivo para cana mas pode ser expandido para outras culturas nos próximos anos”, comenta Graciela Mognol, gerente de marketing da Basf.

Com o serviço da Basf as usinas ou associações – e aí torna-se possível pequenas propriedades se beneficiarem da tecnologia – podem ter uma gestão muito melhor das áreas. Podem começar a enxergar o canavial como um todo porque a cana tem porte alto, existe dificuldade de monitorar as áreas de forma a identificar se o canavial está 100% com alta biomassa ou se existem áreas com média e baixa biomassa. Se a equipe encontrar áreas com baixa biomassa é porque lá existe um problema que se não for tratado vai reduzir a produtividade. Dependendo da variedade da cana plantada, a usina gera uma expectativa de quanto deve existir de biomassa por hectare e a imagem de satélite pode corroborar, ou não, esse volume. Quando se vê a imagem de satélite, o mapa mostra por cores a alta, a média e a baixa biomassa.

Esses pontos são marcados e faz-se a amostragem do solo, identificam-se as pragas ou outros problemas e orienta-se sobre a melhor forma de tratar essa área. O objetivo é que se recupere a área para que ela tenha a melhor produtividade esperada. Segundo Graciela, quando não é uma praga podem ser manchas, plantas daninhas ou, ainda, outro grande fator encontrado, a compactação de solo. O problema pode ser difícil de ser detectado sem um instrumento de agricultura de precisão, nesse caso, a imagem de satélite. Com as informações que o georeferenciamento oferece, tem-se melhor gerenciamento dos insumos utilizados porque trata-se apenas a área com problema. Isso leva a um grande rendimento operacional porque a ação é localizada e precisa. Então, utilizar esse recurso confere uma ferramenta de estratégia porque pode-se alocar recursos, pessoas e insumos na medida exata.

A Associação de Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo - Canaoeste firmou parceria que fornecerá acesso ao serviço da Basf para mais de 200 produtores associados. A primeira etapa da ação prevê o monitoramento de 30 mil hectares em 20 municípios da região de Bebedouro / SP. A Canaoeste é a primeira associação a receber a tecnologia e seu presidente, Manoel Ortolan, acredita que o setor necessita de novas tecnologias que aumentem a produtividade das lavouras. “O serviço contempla os pilares ambiental, econômico e social da sustentabilidade. E o produtor passará a aplicar produtos apenas nas áreas em que realmente há necessidade, otimizando os custos de produção e melhorando sua renda. Assim, poderá gerir o seu negócio com inteligência e criatividade”, destaca o executivo.

 
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