Edição 136 – 2012
Clima impróprio

Na safra passada, os efeitos climáticos derrubaram a produtividade da cana. Temperatura, chuva e radiação solar afetam diretamente a maturação e a proliferação de pragas.

 

Flávio Bosco

Quebras de safra, enchentes, seca, desafios políticos, humanitários e tecnológicos, aquecimento global e meio ambiente. O clima, que já tinha status determinante para as culturas de soja e milho, por exemplo, começa a ser notado pela indústria canavieira. Uma reunião do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais – Cemaden, em abril deste ano, mostra que o Brasil já possui estudos climáticos de primeiro mundo: no encontro, pesquisadores mostraram tendências de seca para a região Sul e o semiárido, e o Norte com previsão de cheia. Surgem então perguntas como "se o tempo está ficando mais seco por causa do aquecimento global, devemos fazer uma variedade de cana para clima de deserto?" ou "vamos fazer um fertilizante que não precise reaplicar" ou "se a seca ou o excesso de chuva trazem doenças específicas, vamos nos preparar com antecedência?".

O professor doutor Fabio Marin, pesquisador da Embrapa, tem trabalhado com o clima em duas vertentes: para prever a safra do próximo ano e para projetar cenários de mudanças climáticas no futuro. "Sobre as mudanças no clima, trabalha-se com a seguinte pergunta em mente: se esses cenários de clima futuro forem verdadeiros, o que aconteceria com a cultura da cana no Brasil?" Marin pesquisa a influência do clima na produtividade da cana – porque o clima é a coisa que mais varia de um ano para outro. A pesquisa da Embrapa observa o Brasil todo, mas claro que a equipe acaba conhecendo melhor sua própria região, o Estado de São Paulo.

O cenário climático para a próxima estação do ano deixa uma margem de manobra relativamente pequena, porque a cana já está no campo e a estratégia da usina já está lançada. E existem várias ferramentas para se abordar o problema – uma das mais utilizadas no mundo são os modelos de crescimento. Essas ferramentas integram todos os elementos climáticos – temperatura, chuva, radiação solar – com o manejo da cultura para então calcular como seria o desenvolvimento da cana-de-açúcar em diferentes tipos de solos. O raciocínio proposto é o seguinte: ano passado choveu menos, mas apenas somar toda a chuva de um período de crescimento não mostra se a cana vai render mais ou não, porque não é só a chuva que regula isso.

Temperatura, radiação solar, variedade e insumos funcionam juntos e devem ser analisados juntos. Pode-se tirar uma média e traçar linhas gerais no sentido de estabelecer limites possíveis para um crescimento perto do ótimo. Parece tão subjetivo... Então, para não ficar a opinião de um contra a de outro, utilizam- se modelos de crescimento de planta, algoritmos gerados a partir de muita observação em laboratórios de vários tipos de cana, com solos, água, luminosidades diferentes. Aí se verifica como e quanto açúcar é acumulado, como crescem a raiz e as folhas, e só então entra o algoritmo com os dados de clima daquela safra para se chegar a um cenário muito próximo da realidade, uma boa estimativa. Segundo Marin, com os modelos de crescimento pode-se associar as previsões de tempo (aquelas feitas para o curto prazo) e clima (projeções para prazos mais longos) com dados de manejo e prever a produtividade da cultura. Tais modelos estão disponíveis na ciência e o que cada grupo faz é melhorá-lo, aperfeiçoá-lo, adaptá-lo às condições locais de acordo com seus estudos; assim existem várias pesquisas sobre isso, e a própria Embrapa está desenvolvendo seus algoritmos, que devem estar prontos já em 2013.

Apesar de saber da importância, o setor canavieiro de modo geral ainda utiliza pouco a informação climática como instrumento da tomada de decisão. E mesmo antes de utilizar a informação climática para a previsão, seria ideal incorporar essa informação observando os dados do passado; avaliando o efeito do clima nas safras anteriores – o que já representaria um ganho para as companhias. Isso precisa ser feito de maneira sistemática e profissional, iniciando pela observação do passado e avançando para a elaboração de cenários futuros. "Isso se faz muito pouco. Os problemas do ano passado mostram que poucas usinas olham para o passado e aprendem com ele com uma simples pergunta: como é o clima na minha região? Já me dei mal nessa condição, com essa ou aquela prática? Seria bom fazer uma avaliação do risco que o clima representa para o meu canavial nessa região, para este tipo de solo.

Na média, pouca gente usa essa informação para economizar, aplicar melhor os recursos, ganhar dinheiro, agir de maneira estratégica". Então, como falar de mudança climática com quem não faz o básico? De que adianta olhar para daqui a 10, 20, ou 50 anos se não se utiliza o que existe à mão? Quando se dá uma consultoria para compra de variedades de cana, tem-se que ter em mente um horizonte de cinco a dez anos porque o comprador faz um grande investimento na reforma do canavial e não vai trocá-lo até que chegue o período certo – vai ficar casado com aquela variedade por alguns anos. Nas usinas que têm manejo varietal, existe um responsável para conjugar clima, solo e outros elementos de cada talhão, mas o clima, no caso da cana, ainda não tem um status adequado.

E uma vez instalada, não dá para mudar a usina de lugar – o clima está dado e só dá para fazer pequenas correções. Ainda assim, clima é a coisa que menos se estuda quando se pensa em instalar uma nova usina ou implantar uma nova variedade. E isso não é nem questão de prever o futuro, é preciso ao menos olhar o passado, porque se pode aprender uma série de coisas só olhando a variabilidade climática da região, na série histórica da região. Pode-se ter uma boa aproximação de qual é o risco de produção, associar o nível de produção a probabilidades, verifica as probabilidades dos últimos 10 anos e analisar o nível de produção em anos bons e ruins. "Numa análise de risco climático pode-se afirmar que em determinado lugar existe, por exemplo, 90% de chances de alcançar uma certa produtividade, mas que num local ruim esse nível de rendimento pode cair para menos de 50% desse valor! É um exemplo de aplicação do estudo climático que não se utiliza"! A grande questão é que, se existem estudos climáticos de alto nível disponíveis no Brasil, eles deveriam ser mais bem aproveitados no agronegócio.

Além das coisas sofisticadas existem as básicas que, especialmente o setor canavieiro, muito técnico em algumas áreas, não aproveita. Não adianta ter um modelo sofisticado e outras coisas mais complexas sem entender como o ambiente da sua região funciona. A matéria prima do empresário canavieiro vem do campo e o maior risco aí é o clima! E, se o clima é cíclico, numa série histórica longa, têm-se grandes chances de que no ano que vem seu cenário esteja nessa análise. Se existem dados sobre o que aconteceu há 30 anos, pode-se pensar melhor o que esperar. Aplicando isso para a cana, com uma análise climática, pode-se dizer que numa determinada região não há potencial para produzir mais que X toneladas por hectare; então não adianta fazer um plano de negócio esperando mais que X.

Por outro lado, conhecendo o sistema de produção da usina e contanto com bons modelos, pode-se simular no computador diversas possibilidades de manejo, épocas de corte em diferentes tipos de solo, buscando as melhores combinações para redução de custo e aumento da produtividade. Por exemplo: aumentando em 20% a aplicação de nitrogênio por hectare, quanto aumentará a produção? E a partir de quanto custa o nitrogênio e quanto se ganha a mais, verificar se a prática é viável ou não, fazendo uma análise de custo. No momento, a equipe do professor Marin estuda o efeito da retirada de palha do canavial na produtividade – porque tem muita gente querendo pegar a palha para gerar eletricidade. Então é possível, com base em alguns experimentos de campo, extrapolar os resultados para diferentes regiões do Brasil e projetar esses resultados para período de 10, 15 e 20 anos, observando os efeitos dessa retirada. Não se abre mão do experimento de campo, mas a análise computacional permite reduzir o custo e o tempo de alguns tipos de experimentação, especialmente quando o experimento é muito caro e leva muito tempo, como é o caso da cana-de-açúcar.

Pode-se, por exemplo, escolher e testar duas ou três hipóteses em vez de dez, otimizando os recursos, tempo e dinheiro. Outra aplicação para os modelos de crescimento é fazer a previsão de safra. Até recentemente, no Brasil, entidades, institutos e governo faziam previsão de safra através de métodos subjetivos - entrevistas e questionários, balanceados com a experiência própria. O uso desses modelos representaria uma informação objetiva, que levaria em conta apenas dados de clima e alterações no manejo, sem considerar as tendências pessoais. Mas, quando se fala de previsão de safra, está-se falando de produção em função do clima da safra 2012/2013, por exemplo. Quando se fala de mudança climática, o horizonte é maior.

Os cenários futuros tentam ver 2030 ou 2050, por exemplo. Segundo o pesquisador da Embrapa, no caso da cana, o aquecimento global mostra que existe probabilidade de a cana ser beneficiada ou ao menos não sofrer impactos negativos profundos. "Não temos certeza se o cenário utilizado é real e por isso, usamos quatro cenários diferentes, feitos por duas das instituições mais respeitadas do mundo: uma fala que a temperatura vai aumentar meio grau, enquanto outra fala que vai aumentar dois e meio; para uma a chuva vai diminuir 20% e para a outra é exatamente o inverso. E nessa história não existe certo ou errado, existem cenários diferentes. Então, qual o mais provável? Não sabemos, mas rodamos o algoritmo para cada um desses cenários para cerca de 80 estações meteorológicas no Estado de São Paulo, trocando o clima atual pelo de cada um dos cenários, para cada uma das estações. Para os quatro cenários, que são climaticamente bem diferentes, a produtividade da cana aumenta ou se mantém, o que mostra que futuro pode ser bom para a cana em São Paulo".

Para saber se o futuro é bom para outras regiões do Brasil, é preciso rodar o algoritmo outra vez, mas, a partir do que a equipe do professor Marin já tem, pode-se dizer que o futuro também será bom para a cana no Centro Oeste. No NE as condições já são especiais, mas o primeiro passo continua o mesmo: olhar o passado e verificar que esse cenário de seca não é coisa rara por lá. Então quando se vai planejar um negócio tem que levar em conta a frequência de anos adversos e que nível de produtividade se pode esperar nestes casos. Além do solo, o fator determinante lá é a água: o negócio é irrigar para mitigar os riscos e análises hidrológicas podem se fazer necessárias também. E existem também as plantas daninhas: na simulação as plantas daninhas também devem ser favorecidas com o aquecimento global, assim como as pragas e doenças que atacam os canaviais, mas isso em diferentes níveis. E esses efeitos futuros, tanto para a cana, como as daninhas, pragas e doenças, são em grande parte decorrentes do efeito do CO2. Experimentos mostram que a cana adora mais CO2 na atmosfera, então, na presença de mais CO2 ela cresce mais e resiste mais à seca!




A busca pela cana resistente a seca
 

O presidente da Associação dos Fornecedores de Cana de Pernambuco, Alexandre Andrade Lima, ressalta que a cultura da cana no Nordeste acontece em grandes propriedades – no caso das usinas, que representam 70% da produção, e pequenas e médias propriedades quando se trata de produtores independentes - que respondem por 30% de toda matéria prima da região. Alexandre lembra que para obter uma boa produtividade nos canaviais, existe a necessidade de incremento de fertilizante químico. A adubação é sempre realizada na ocasião do plantio e também logo após a colheita para moagem com formulações que variam de acordo com a análise de solo. Na época do plantio, que geralmente acontece entre os meses de maio e agosto, a adubação é direcionada no fundo do sulco com formulação a base de fósforo – uma segunda adubação complementar, à base de potássio e nitrogênio, acontece três meses após a primeira.

A adubação de socaria é realizada logo após o corte da cana que se inicia no mês de setembro e se estende até março sendo adicionada formulação à base de potássio e nitrogênio quando observada a germinação do canavial. E não existe rodízio de cultura nas lavouras de cana de açúcar do Nordeste, pois a cana é uma cultura de ciclo semi-perene, produzindo por um período de cinco a sete anos. Alexandre conta que as variedades mais plantadas do Nordeste são oriundas, em sua maioria, da Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético - Ridesa, por melhor se adaptam ao clima da região. Alguns exemplos são as RB92579, RB967515, RB98710, RB962962 e RB931011. "Existem pesquisas em andamento que buscam aprimorar ainda mais algumas variedades que consigam maiores produtividades e que tenham maior resistência à seca", completa.

A Associação mantém agrônomos especializados que se deslocam até as propriedades levando assistência técnica diretamente ao produtor rural, orientando as práticas mais adequadas sempre em busca de uma maior produtividade. "A equipe realiza análises de solo, indica as correções necessárias, recomenda fertilizantes, técnicas de aplicação de defensivos, conservação de solo, mecanização agrícola, variedades e colheita. A Associação presta ao associado o acompanhamento da realização das análises dos teores de açúcar na cana visando o seu pagamento e, além desses serviços, contamos também com um setor de topografia que faz levantamentos georeferenciados das propriedades. A elaboração de projetos para financiamentos de custeio e investimento é outro ponto oferecido pelo Departamento Técnico", pontua Alexandre.

De fato, a Associação é ativa e tem lutado pelo setor no Nordeste, tendo inclusive alguns pleitos atendidos pelo governo visando aumento de produtividade – como a distribuição de fertilizante aos pequenos agricultores. "Foram distribuídos ao longo dos três últimos anos cerca de R$ 15 milhões para a compra de fertilizantes para os pequenos fornecedores de cana sendo verbas oriundas do estado atendendo aos produtores com moagem até três mil toneladas. Toda distribuição é acompanhada por técnicos da Associação para garantir o bom uso destes recursos. O fertilizante é distribuído gratuitamente garantindo a manutenção do emprego e a boa produtividade no campo com consequente retorno de impostos para o governo.

E em casos de calamidades como as ocasionadas por secas severas, citando exemplos como as verificadas nos anos de 1999/2000, foi implantado o Prorenor com distribuição de mudas, fertilizante e herbicida". Alexandre lembra ainda que existe acompanhamento climático através dos órgãos governamentais que divulgam suas previsões repassadas a todos os produtores da região através dos órgãos de classe e dos meios convencionais de comunicação. "O clima verificado na zona da mata apresenta diferenciação do encontrado no Agreste e sertão, sendo esta região bem mais seca, com baixas precipitações. A região canavieira do Nordeste está localizada na Zona da Mata, onde o índice pluviométrico é quase sempre satisfatório ao bom desenvolvimento da cultura salvo em anos que apresentam quadros de estiagem.

Observamos que a seca que vem se apresentando desde o mês de março na região ocasionou uma diminuição no desenvolvimento da cana em todo o Nordeste, já começando a surgir focos de mortandade em diversos locais desprovidos de irrigação de salvação, estimando-se uma redução até o momento de 30% da produção estimada. Caso não ocorra a volta da normalidade das chuvas esta situação poderá ser agravada ocorrendo uma redução até maior", finaliza o presidente da Associação.


Embrapa desenvolve cana modificada geneticamente para resistir à seca
 

O professor Dr. Hugo Bruno Correa Molinari, engenheiro agrônomo pesquisador da Embrapa Agroenergia ressalta que os programas de melhoramento genético convencional têm oferecido aos produtores variedades altamente produtivas ao longo dos anos. Entretanto, saltos tecnológicos precisam ser incorporados para alavancar o setor sucroalcooleiro energético. Dentre estas tecnologias, a transgenia pode auxiliar como uma ferramenta poderosa que viabiliza a melhoria de características importantes ao produtor como resistência a pragas e doenças aumento em biomassa e açúcar. Além disso, características de interesse industrial também podem ser melhoradas.

É possível desenhar uma cana adequada a produção de etanol de segunda geração e assim facilitar seu processamento integral. Uma pergunta muito difícil de ser respondida é quando a cana geneticamente modificada vai sair do laboratório e ser plantada comercialmente – pois esse movimento depende de muitos fatores, principalmente aqueles relacionados à desregulamentação da variedade geneticamente modificada - GM. E nenhum país ainda cultiva cana GM comercialmente. A cana geneticamente modificada poderá ser plantada tanto nas áreas tradicionais quanto nas de expansão da cultura. Com o desenvolvimento de variedades transgênicas adaptadas, esse impulso poderá ser intensificado.

Já existem alguns grupos, instituições e empresas multinacionais trabalhando no tema – como Basf, Bayer, CTC, DuPont, Embrapa, Monsanto, Syngenta, Ridesa, Iapar, IAC, USP e Unicamp. No caso da cana contendo o gene DREB2A o financiamento vem da Embrapa em parceria com o Japan Internacional Research Center for Agricultural Sciences - Jircas. Mas, ressalta o professor Molinari, para que o setor continue crescendo ainda mais, há duas alternativas: aumentar a área de produção – o que é possível, mas não desejável, já que avanços tecnológicos no setor deverão restringir o crescimento exagerado da cultura nas áreas delimitadas pelo zoneamento agroecológico, definido pelo Ministério da Agricultura; ou desenvolver variedades que produzam mais no mesmo espaço, ou seja, que apresentem melhores índices de produção e produtividade.

Para o mercado, desenvolver variedades tolerantes a seca será uma estratégia interessante, principalmente para as áreas de expansão, devido à redução das perdas por estiagem (que podem chegar a 50%, dependendo da região de cultivo e da época de plantio) e do uso mais eficiente da água via irrigação, recurso natural importantíssimo e que deve ser preservado.


Canavialis e IAC apresentam novas variedades

Déficit hídrico e novas fronteiras agrícolas move os pro gramas de melhoramento dos institutos de pesquisa. Durante a Agrishow o Instituto Agronômico - IAC apresentou dez variedades, com perfil de maturação para o meio e fim de safra – ideais para atender diferentes condições edafoclimáticas do Centro-Sul – e adaptadas à colheita mecânica, ou que proporcionam elevada produtividade e concentração de sacarose. Nos últimos oito anos, o instituto desenvolveu 16 variedades. Os últimos lançamentos – IACSP95-5094, IACSP96-2042 e IACSP96-3060 – apresentam elevada produtividade e concentração de sacarose. A Canavialis apresentou durante a Feicana três novas variedades – CV 7231, CV 7870 e CV 6654 – indicadas para cultivo em solos ruins, classificados como ambientes B, C e D e colheita na primeira metade da safra – esses solos são encontrados nas áreas de novas fronteiras.

Segundo o representante técnico de desenvolvimento da empresa, Alex Salla, a expansão da cana de açúcar se dá nos piores ambientes, e havia uma carência dessas variedades precoces adaptadas para solos ruins. Alex explica que as pesquisas buscam desenvolver variedades mais adaptadas à colheita mecanizada – o que significa cana ereta, que despalhe naturalmente, com pequena gema e brotação sobre a palha que fica no campo. A CV 7231, com alto teor de sacarose no início da safra – o que determina precocidade - possui boa performance de brotação de soqueira e é adaptada à colheita mecanizada devido ao seu porte ereto. A CV 7870, além de características como porte ereto e boa adaptabilidade a ambientes intermediários, apresenta excelente germinação sob plantio mecanizado e performance sob colheitas mecanizadas, especialmente quando realizadas em junho e julho.

A variedade CV 6654 se destaca pelo perfilhamento, sanidade e colheitabilidade. Como não apresenta chochamento, pode ser manejada até agosto. Durante o Cana Show, realizado em dezembro do ano passado, o CTC apresentou sua sétima geração de variedades, recomendadas para regiões de maior déficit hídrico e para colheita mecanizada do meio para o final da safra.



O melhor herbicida
 

O Professor Associado Pedro Christoffoleti, do Departamento de Produção Vegetal, Área de Biologia e Manejo de Plantas Daninhas da USP/ Esalq, lembra que o manejo sustentável das plantas daninhas em uma cultura envolve a associação de medidas integradas de controle de plantas daninhas – sendo que o controle cultural das plantas daninhas representa uma das medidas mais importantes para o produtor. O manejo cultural está fundamentado em boas práticas agrícolas que favorecem o desenvolvimento da cultura em detrimento do estabelecimento da planta daninha – sendo assim, podemos inferir de forma figurativa que "o melhor herbicida é o bom estabelecimento da cultura", pois qualquer medida agronômica que favoreça o estabelecimento rápido da cultura, ocupando os nichos ecológicos do ambiente, torna menores as chances de estabelecimento de infestações de plantas daninhas.

Este processo é aplicável de forma direta na cultura da cana, ou seja, quanto mais rápido a cultura da cana se estabelecer na área, maiores serão as vantagens competitivas da cultura sobre as plantas daninhas, contribuindo assim para o manejo integrado de plantas daninhas de forma significativa. O estabelecimento adequado da cultura é, portanto uma forma de manejo das plantas daninhas. Porém, o nível de conhecimento tecnológico e fitotécnico que conhecemos e utilizamos na prática não é suficiente para que o estabelecimento da cultura seja capaz de suprimir totalmente o desenvolvimento das plantas daninhas. Assim, é necessário integrar no processo o uso de herbicidas durante as fases iniciais de estabelecimento da cultura.

Para isso os herbicidas representam uma valiosa ferramenta de manejo, pois permite o controle das plantas daninhas durante os períodos de mato-competição com a cultura de forma econômica, quando comparado com outros métodos – mecânico ou capina manual – eficaz e rápida. É evidente que os herbicidas são produtos químicos e como tal procedimentos e técnicas de uso correto e seguro devem nortear sua aplicação por parte das pessoas que recomendam e que efetivamente manuseiam os produtos no campo. Existem inúmeros herbicidas que são recomendados para a cultura da cana de açúcar – mais de 40 ingredientes ativos – portanto sua recomendação deve ser baseada em aspectos técnicos relacionados com fatores ligados à cultura, às condições edáficas e climáticas e a infestação de plantas daninhas presentes na área.

Dentre os fatores ligados à cultura destacam se a modalidade de cultura – cana planta ou cana soca. Fatores ligados ao solo referem se principalmente a textura e teor de matéria orgânica, e fatores ligados ao clima estão relacionados com a condição do balanço hídrico da época de aplicação de herbicida, caracterizando as épocas seca e chuvosa do ano e finalmente com relação à comunidade infestante deve ser levado em consideração a composição da comunidade infestante e o estádio de desenvolvimento da planta daninha no momento da aplicação. Sendo assim, não existem "receitas" de recomendação de herbicidas na prática, pois a combinação destes fatores mencionados resultam em recomendações específicas para cada situação de uso do herbicida. Com a mudança do sistema de colheita da cana de açúcar para mecanizada sem a queima da palhada nos últimos anos houve uma mudança na composição específica das plantas daninhas nos canaviais.

Espécies que melhor se adaptam a esta condição são aquelas que apresentam sementes grandes e do tipo dicotiledôneas, na prática conhecidas como folhas largas – assim espécies conhecidas popularmente como cordas de viola, mucuna preta, mamona, melão de são caetano e outras passaram a infestar áreas expressivas na cultura da cana. Um outro aspecto que deve ser salientado no sistema de colheita de cana mecanizado sem a queima da palhada é que a colhedeira pode servir como fonte de disseminação destas plantas daninhas. Assim, é comum a utilização de colhedeiras em áreas infestadas por estas plantas daninhas e em seguida a mesma colhedeira pode disseminar para outras áreas onde a planta daninha não é problema. Assim, recomenda se que o sistema de colheita mecanizada da cana de açúcar utilize dentro do possível medidas de prevenção de disseminação destas plantas durante o processo de colheita.

No Nordeste o manejo de plantas daninhas é em grande parte feito em áreas de cana com colheita convencional com queima, principalmente nas áreas de encostas, onde é impossível a colheita mecanizada sem queima da palhada. Neste caso o herbicida deve ter um espectro mais amplo com grande eficácia principalmente em gramíneas, com alguma eficácia sobre folhas largas. No entanto, observa-se que nos últimos anos as áreas de colheita mecanizada estão também aumentando nas regiões de solos com pequena declividade, e assim os problemas de folhas largas irão aumentar em um futuro próximo no Nordeste.

Destacase também que no Nordeste existe um período de seca muito acentuado, durante os meses de outubro a fevereiro, influenciando de forma significativa a flora daninha e também a eficácia dos herbicidas. Neste período, quando não é feita irrigação há seleção de plantas daninhas tolerantes a seca, com capim gengibre, capim mão de sapo e burra leiteira e outras. Também é prática no Nordeste a utilização de herbicidas neste período que toleram condições de solo seco como imazapic, amicarbazone, tebuthiuron e isoxaflutole, dentre outros.

Até o momento os programas de melhoramento de obtenção de novas variedades não avaliam a característica de competitividade dos clones com as plantas daninhas e nem sua sensibilidade aos herbicidas. No entanto, fica evidente na prática que variedades que apresentam intenso e rápido perfilhamento são mais competitivas com as plantas daninhas, assim como variedades que apresentam rápida brotação inicial.
 
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