Edição 135 – 2012
Maquinado

Mecanização da colheita avança e máquinas ampliam presença no plantio

 

Flávio Bosco

Nos canaviais do Mato Grosso do Sul, o índice de mecanização da colheita é de 84%. Em Minas Gerais, já alcançou 79%. No Mato Grosso superou 60%. Em São Paulo, segundo levantamento da Secretaria do Meio Ambiente as usinas mecanizaram 70,3% e os fornecedores 21,1% das áreas colhidas na safra 2010/2011 os dados da safra 2011/2012 ainda não foram fechados pela Secretaria. No Paraná, a mecanização atinge 35% dos canaviais, puxada pelas regiões onde houve expansão e não há mão-de-obra disponível. Mesmo nos Estados do Nordeste, onde a declividade acentuada dos canaviais dificulta a entrada das máquinas, a mecanização da colheita já é observada com maior intensidade nas regiões planas do Rio Grande do Norte, Tabuleiros costeiros da Paraíba e nos tabuleiros férteis de Alagoas. No Centro-Sul, os maiores índices de mecanização acabam mesmo sendo registrados pelas usinas e por grandes produto res. "Na maioria dos Estados onde estão se instalando as novas usinas o índice de mecanização é muito alto", destaca o representante da União da Indústria de Cana-de-Açúcar, Sergio Prado.

A mecanização transformou o cultivo tradicional e não apenas pela necessidade de qualificação profissional: a entrada das máquinas exigiu mudanças no espaçamento das linhas do canavial e a palha que fica no campo gerou novas demandas de aproveitamento. Há, no entanto, desafios para elevar esses percentuais não só porque os pequenos produtores têm fôlego mais curto para investir em máquinas, implementos e mão de obra especializada, mas porque existem gargalos que limitam a performance da colheita. "Precisamos que as máquinas sejam menos dependente da ação do operador, reduzam as perdas e o consumo de combustíveis", aponta o presidente da Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul, Ismael Perina. As máquinas que estão saindo hoje nas linhas de montagem já contemplam parte dessas evoluções como controle eletrônico da altura do corte de base, monitoramento através de telemetria, sistemas de ventilação e limpeza que consomem menos combustível o consumo, e estão preparadas até para terrenos que apresentam declividade superior a 12%.

Proporcionalmen te, a produtividade aumenta significativamente. Por outro lado, o esforço em ofertar máquinas mais potentes significou mais agressão à soqueira e aos colmos. No plantio, o índice de mecanização é ainda pequeno quando comparado com a colheita, onde até agora esteve centrado o maior esforço em São Paulo, que ainda responde por duas de cada três toneladas de cana no país, a mecanização da colheita tem avançado de forma acelerada por conta do protocolo agroambiental assinado em 2008, que determina a extinção gradativa da prática da queima até 2017.

No Paraná, o Plano Agroambiental desenvolvido em parceria com o Governo do Estado, prevê que até 2015 20% dos canaviais deixem de ser queimados. Ismael Perina lembra que os grandes produtores conseguem atingir índices bem próximos dos 100% no plantio mecanizado ou semimecanizado em que um trator trabalha em conjunto com uma plantadora. No MS, por exemplo, o índice de mecanização no plantio da cana é de 70% da área que na ultima safra foi de 95 mil hectares da área de renovação. E no MT mecanizado representou 10% da área na safra 2011/2012 algo em torno de 20 mil hectares, segundo o Sindicato das Indústrias Sucroalcooleiras - Sindalcool/MT.

A questão crucial nesta etapa reside na regra que diz que "uma boa colhei ta inicia-se com um bom plantio": só com preparo de solo, sistematização e variedades adequados será possível ter um canavial conveniente para as colheitadeiras. "Temos um avanço gigantesco com o plantio com GPS: o plantio é feito e deixa um mapa para a colheita", observa Sergio Prado.

A agricultura de precisão, com suas ferramentas de determinação por sensoreamento e de posicionamento georreferenciais é uma realidade cada vez mais presente, com maior amostragem de pontos que indicam as propriedades do solo e as necessidades de fertilizantes, além do diagnóstico fornecido na colheita. Sem contar que o georreferenciamento por GPS, os sensores dosadores de insumos e a padronização abrangendo todas as operações proporciona a maximização do rendimento operacional e do retorno sobre o investimento. A mecanização do plantio, no entanto, ainda requer pesquisa e desenvolvimento com objetivo de melhorar a qualidade do trabalho no campo e reduzir os custos associados, principalmente no que se refere à colheitadeira de mudas, plantadoras e sistema logístico para o transporte das mudas.

As novidades estão aparecendo em plantadoras e distribui dores de cana picada que proporcionam também a cobertura dos sulcos de plantio e de dispositivos de auxílio direcional que garantem maior precisão no paralelismo das linhas de plantio, facilitando a colheita e reduzindo o pisoteio na linha de plantio. O Centro de Tecnologia Canavieira estuda, em parceria com a Usina São Martinho, uma plantadora que permite a distribuição de torta de filtro no sulco, e com a DMB uma plantadora de toletes. Na última Fenasucro/Agrocana a Santal apresentou o protótipo de uma nova plantadora de cana-de-açúcar que se adapta aos diversos tipos de espaçamentos dos canaviais. Outro diferencial da máquina é que ela é modular e pode ser utilizada no plantio totalmente mecanizado ou somente como distribuidora de mudas.

A máquina estará disponível para esta safra 2012/2013. No início deste ano, a AGCO que já detém as marcas Valtra e Massey Ferguson anunciou a compra de 60% da Santal única empresa a oferecer um sistema completo de mecanização agrícola para as lavouras, com plantadora de cana picada, colheitadeira e veículos de transbordo por US$ 31 milhões. No segmento de colheitadeiras de cana-de-açúcar, dominado por Case e John Deere, a Santal detém 3% de mercado e dispõe de duas versões de máquinas, uma com tração por pneus e outra por esteira.


O desafio de aumentar os índices

Segundo Ismael Perina, a maior preocupação é mecanizar a colheita de pequenos e médios produtores que respondem por uma de cada quatro toneladas de cana colhidas. Entre as alternativas estudadas estão a for mação de consórcios para aquisição de máquinas e também taxas diferenciadas de financiamento, com base na vantagem ambiental proporcionada pela mecanização do canavial. Há, no entanto, problemas de ordem técnica a serem resolvidos também na colheita: muitas usinas registram perdas porque as máquinas ou não cortam a cana rente ao solo ou carregam impurezas principalmente quando a regulagem da plataforma de corte é uma função que cabe ao operador. Além disso, nem todas as usinas estão preparadas para lidar com o volume maior de terra e palha trazidas do campo. No ano passado o Instituto Agronômico IAC apresentou um sistema com lâminas serrilhadas e corte por deslizamento para diminuir perdas na colheita mecanizada com um trabalho que durou dez anos, os pesquisadores propuseram um sistema que substituísse o corte por impacto pelo corte por deslizamento que reduziria de 3,4% para 0,2% a quantidade de soqueiras arrancadas. Além de reduzir a produtividade, o dano na soqueira facilita o ataque de pragas outro vilão da queda da produtividade.

Só que uma solução uniformizada não atende as especificidades de cada usina Ismael Perina lembra que algumas usinas estão mais equipadas para lidar com volume de palhas, por exemplo, e não haveria a necessidade de gastar mais com colhedoras mais avançadas. O Programa Agrícola do CTBE estuda o desenvolvimento de uma Estrutura de Tráfego Controlado ETC, que atue do plantio à colheita de forma mecanizada, com um contato mínimo com o terreno nesse caso as rodas do equipamento percorrem trilhas permanentes, espaçadas nove metros umas das outras, evitando o pisoteamento e a compactação do solo.

Na colheita, a máquina levanta o colmo, corta a base, pica a cana e transfere para o transbordo. Outro problema comum está na velocidade de limpeza dos extratores o que aumenta o consumo de combustível. Esse promete ser o próximo ponto de desenvolvimento dos modelos lançados a partir deste ano. A Case IH, por exemplo, trabalha no desenvolvimento do Smart Cruise, uma ferramenta para ajuste automático da rotação que promete economia de até 26% no consumo. Dos lançamentos mais recentes, as máquinas da Case IH já trazem o controle automático de altura do corte de base batizado de Auto Tracker, o sistema possui referência de altura e pressão, que garante uma maior velocidade de resposta em relação às irregularidades da área além de novo sistema de arrefecimento constituído por um pacote de radiadores na parte superior da colhedora que minimiza o contato com impurezas, o novo picador Extremer Chopper e a introdução da tecnologia de agricultura de precisão Advanced Farmming Systems - AFS.

Um kit de estabilidade introduzido nas máquinas de esteira modelo A8800 aumenta de 15% para 20% a declividade em que podem operar. A empresa também aposta na colhedora A4000 para atender as necessidades de pequenos e médios fornecedores de cana que cultivam a cana em espaçamento reduzido, de até um metro. A empresa assinou no início do ano um acordo de cooperação técnica e intelectual com o Grupo São Martinho, que tem por objetivo desenvolver tecnologias para o cultivo da cana. A Usina São Martinho, localizada em Pradópolis /SP, ampliará a utilização de tratores, colhedoras, pulverizadores, plantadoras, transporte, equipamentos de agricultura de precisão, telemetria e controle de frota da Case IH o desempenho das máquinas será acompanhado pelos técnicos da Case IH, que estará à disposição para a troca de informações e o desenvolvimento de novas tecnologias direcionadas às necessidades encontradas no campo.

Já a John Deere apostou na colheita com uma rotação reduzida - o sistema FieldCruise associado ao motor permite economia de combustível e sistema de arrefecimento mais eficiente, com ventilador reversível. Outra inovação, introduzida no modelo 3520, é o ajuste de inclinação interno dos divisores de linhas que permite melhor operação em cana tombada. O diferencial da colhedora S5010, da Santal, é o kit mudas, que transforma a máquina para colheita de muda ou colheita industrial. "Nossos projetos continuam contemplando a melhoria nos produtos existentes e o desenvolvimento de novas soluções para o setor, uma vez que aumento da produção, as novas variedades, os custos, as novas técnicas de cultivo e muitos outros fatores envolvidos em toda cadeia produtiva provocam nos fabricantes de máquinas e equipamentos esta necessidade de evolução", ressalta o gerente de marketing e produtos da Santal, Marco Gobesso.

As novidades não se restringem às plantadoras e colheitadeiras: os tratores da série MF 7100, da Massey Ferguson, ganhou uma versão canavieira com eixo com bitola de três metros que evita o pisoteio das soqueiras, causando um menor dano a lavoura. A própria John Deere incorporou novos modelos 7195J e 7210J à série J de tratores, usados no plantio e o transbordo de cana. Os motores dos dois novos modelos utilizam o sistema de Injeção Eletrônica sob Alta Pressão HPCR, e passam a ter eixo heavy duty como item de série, para garantir maior resistência e maior peso máximo lastrado, garantindo maior capacidade de tração de implementos. Outra novidade é a disponibilidade de bomba hidráulica de 174 litros por minuto, para maior potência hidráulica.

O pulverizador BS 3020H, da Valtra, está disponível com chassi Flex Frame, que permitirá uma aplicação mais precisa de defensivos nas lavouras e mantém a máquina sempre tracionada em qualquer tipo de terreno. O controlador de pulverização que equipa o BS 3020H possui GPS integrado e permite o gerenciamento das funções de aplicação. A Valtra centrou seus desenvolvimentos no conceito de Sistema de Operações Integradas a implantação de programas que permitem o planejamento das operações para concentrar a passagem de máquinas e implementos em determinada área, utilizando o mesmo rastro, integrando todas as operações na lavoura e reduzindo a compactação do solo que pode chegar a 86% para 14%.

Com o Agcommand, sistema de telemetria que permite a facilitação do gerenciamento das máquinas pela transferência de dados automaticamente da máquina para o escritório, é possível ter um monitoramento detalhado para estabelecer exatamente onde uma máquina está em um determinado momento, como está o desempenho e qual a eficiência operacional. Até mesmo a palhada que fica no campo após a colheita ganhou o desenvolvimento de um maquinário para permitir seu enfardamento: uma máquina enfardadeira da palhada vem sendo desenvolvida pela Case e deve estar disponível já este ano. A Valtra está trazendo dos EUA uma enfardadeira de feno, forragem e biomassa a Challenger LB34B que gera fardos de 400 kg.




BNDES libera R$ 4 bilhões para expansão e renovação dos canaviais
 

As primeiras notícias da entressafra apontam para uma renovação próxima dos 20% nos canaviais da região Centro Sul. Mesmo antes dos números finais serem consolidados, já é possível notar uma guinada em relação às duas últimas safras em que o índice de renovação esteve próxima de 8%, elevando a idade média dos canaviais para 3,6 anos. "O ideal seria um índice mais alto, porque temos esse passivo. Mas não dá para reformar todo o canavial em um ano, porque não teríamos cana na safra seguinte", avalia Ismael Perina. A expectativa da Unica é que a área plantada cresça pouco mais de 4% na safra 2012/2013. A boa combinação da chuva com dias ensolarados também favoreceu o cultivo da cana na região não só a brotação e o desenvolvimento das plantas, mas também o plantio que será feito até abril, um cenário também diferente da safra passada, que sofreu pela estiagem e pelas geadas.

O engenheiro agrônomo José Alencar Magro ressalta que as variações climáticas são necessárias ao cultivo da cana umidade no solo para brotar e solo seco para concentrar a sacarose. E muita chuva no plantio e na colheita para não prejudicar os trabalhos de campo. "É necessário que o produtor da cana esteja preparado para tirar proveito das variações climáticas pontuais, que algumas vezes podem prejudicar alguma fase da cultura". Mas a noticia mais importante foi a criação de uma linha de financiamento do BNDES para expansão e renovação dos canaviais.

O objetivo do Prorenova, como foi batizado o programa, é aumentar a produtividade da lavoura brasileira de cana-de-açúcar e, assim, reduzir a ociosidade industrial da produção de açúcar e etanol. A ideia do governo é que os recursos possam financiar a renovação ou ampliação de mais de um milhão de hectares de cana-de-açúcar. "Temos 150 milhões de toneladas de capacidade industrial ociosa, que podem ser processadas com as usinas que já existem. Portanto, ao colocar essa linha, o Governo foi sensível à questão da oferta de matéria-prima", avalia Sérgio Prado. Os R$ 4 bilhões do Prorenova irão atender a usinas e grandes produtores que tenham renda igual ou superior a R$ 90 milhões.

O programa tem vigência até 31 de dezembro deste ano o prazo do plantio pode estender- se até 18 meses, sendo que o prazo total de plantio e amortização do financiamento é de 72 meses. A participação do Prorenova é de até 80% sobre os investimentos o custo financeiro anual é de TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo, de 6% ao ano), mais 1,3% de remuneração básica do BNDES e taxa de repasse de 0,5%, além do spread do agente financeiro, que é acertado entre o beneficiário e a instituição. O banco também autorizou os agentes financeiros a aceitarem o penhor da cana como garantia. Hoje, é possível financiar o plantio de cana por meio do produto BNDES Automático, com limites de R$ 10 milhões para grandes empresas e R$ 20 milhões para as demais.

Em 2011, o banco financiou 67 operações, com R$ 92.233 mil somados as linhas BNDES Automático e outros programas de investimento. Ismael Perina lembra que o financiamento só será efetivo quando vier acompanhado de uma política para os combustíveis. Além disso, a cana precisa recuperar a rentabilidade perdida nos últimos anos. "Financiamento não é o único problema que temos. Tem outro problema que é a dificuldade para esse recurso chegar: o agente financeiro exige garantias que muitos produtores não têm".


 
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Acontece nas usinas

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