Edição 122 – 2009

Made in Brazil

Equipamentos mais leves e de menor consumo de combustível começam a sair dos laboratórios
Fabricantes de máquinas e implementos desenvolvem estratégias para aumentar as exportações.
Cortesia Marchesan

Se o etanol brasileiro pode ganhar o mundo, nada mais justo que ele seja o combustível que leve as máquinas e implementos a outros países. Para não perder essa oportunidade, fabricantes ligados à Associação Brasileira da Industria de Máquinas e Equipamentos - Abimaq, já vêm trabalhando junto à Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT para adequar as normas brasileiras de máquinas agrícolas aos padrões internacionais.

Depois de encerrar 2008 com volumes recordes nas vendas, os fabricantes de máquinas agrícolas ainda sentem um mercado retraído – as exportações nos quatro primeiros meses do ano foram 44,3% menores do que as vendas externas registradas entre janeiro e abril de 2008, segundo levantamento da Abimaq.

A queda do mercado interno só não será maior em 2009 por conta dos programas que estimulam a renovação da frota – na forma de programas de financiamento. “Em geral, 80% das vendas de máquinas são financiadas. O agricultor tem necessidade desses financiamentos – porque não está devidamente capitalizado para poder realizar investimentos com recursos próprios”, explica o presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Abimaq, Celso Luis Casale.

Ao assumir a presidência da Câmara, no início do ano, Celso Casale propôs a realização de um congresso – reunindo fabricantes e pesquisadores do setor – no final de 2010 ou no início de 2011, para tratar desses assuntos.

O estouro da crise econômica global, em setembro do ano passado, pegou o setor sucroalcooleiro fragilizado – por queda nos preços do açúcar, valorização cambial e aumento nos preços dos insumos agrícolas – resultando na suspensão das compras de novos tratores e implementos. O levantamento da Abimaq aponta que as vendas de máquinas caíram pela metade. “Com a recuperação dos preços do açúcar deverá acontecer uma recuperação nas vendas de máquinas a partir do próximo ano”, ressalta Casale.

O cenário é bem melhor no segundo trimestre em relação ao primeiro – ainda que tênue, as vendas de tratores em maio registraram aumento de 1,4% em relação a abril, mas ainda 13,8% menor do que as vendas de maio de 2008, segundo números da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores - Anfavea. Os fabricantes de tratores, por exemplo, calculam que 2009 aponte uma retração de 14% em relação a 2008. “A partir de março estamos com o mercado bastante aquecido. Já vemos a possibilidade de repetir os resultados de 2007, que foi o segundo melhor ano da história”, conta o gerente de Marketing da Case IH, Ari Kempenich.

Dados divulgados pela Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo indicam que a mecanização superou mais de 2 milhões de hectares na última safra colhida – um avanço sobre 157 mil hectares que deixaram de utilizar as queimadas para colher cana-de-açúcar. A Secretaria estima que mais de 60% das usinas do Estado já estejam totalmente mecanizadas para esta safra, 10% acima do esperado.

Até 2014, haverá a eliminação da prática de queimada nas áreas mecanizáveis por conta do protocolo ambiental firmado entre o setor sucroalcooleiro e o Governo. Serão 5,9 milhões de hectares em áreas mecanizadas – de um total de sete milhões de hectares de cana plantada. O restante estará em áreas com declividade acima de 12%.

A região canavieira da zona da mata nordestina é a que menos possibilita um aumento da área cultivada e mecanizada, tanto no plantio quanto na colheita, em virtude da topografia do terreno e regimes pluviométricos. “A região Sul do Brasil apresenta-se de forma diferente, pois as condições de clima e solo não são tão adequadas para a mecanização e cultivo da cana-de-açúcar, diferentemente da região Sudeste onde se concentra o maior número de unidades produtoras onde é possível quase que operar 90% da mecanização total, e onde também se concentra o maior mercado consumidor do país”, explica o diretor da fabricante de máquinas Civemasa, João Carlos Marchesan.

O gerente de projetos de colhedoras de cana da AGCO, Guilherme Belardo, destaca que o principal vetor para a mecanização agrícola está baseado na redução de custos – que pode chegar a 40% dos custos da colheita convencional. A empresa vem desenvolvendo uma nova colhedora mais leve, com potência menos, mas capacidade de colheita semelhante às máquinas hoje disponíveis – o que reduz o consumo de combustíveis e a compactação do solo. O protótipo ainda está em fase de testes, e deve chegar ao mercado na safra 2010/2011.

A própria Civemasa expôs na Agrishow uma máquina para colheita que pesa metade do que as colhedoras disponíveis.

Outra vantagem da mecanização é a conservação da umidade do solo para que a cana rebrote com facilidade. Com a colheita mecanizada, a palhada que fica no campo forma uma camada de cobertura vegetal no solo, bloqueando a luz do sol, diminuindo sementes de ervas daninhas, reduzindo também a utilização de herbicidas e aumentando a produtividade agrícola. Em Jaboticabal / SP, após oito anos sem queimadas, já foi observada até a recuperação de uma nascente de rio.
“O programa de gradual eliminação das queimadas tem características nobres ambientais, daí que não pode ser encarado como mecanismo de vendas. Mas, certamente, a redução e total eliminação das queimadas são fatores que têm algum elemento de indução à mecanização. Olhando de outro modo, a crescente mecanização agrícola vai eliminando progressivamente as queimadas e tornando mais produtiva a lavoura”, destaca o diretor de Relações Institucionais da Anfavea, Ademar Cantero.

Tendências e fronteiras

Após dois anos seguidos batendo recordes de produção e vendas, os fabricantes assistiram o setor sucroalcooleiro puxar o freio dos investimentos e ampliações em decorrência da crise financeira internacional. Nesse período pré-crise, houve um incremento acentuado em colhedoras e plantadoras – agora, sem muitos recursos para comprar máquinas novas, os produtores têm estendido a utilização dos equipamentos além da vida útil, que no Brasil é de dez anos.

“Em face da atual crise mundial, as pequenas e médias indústrias do segmento sucroalcooleiro foram obrigadas a liquidar seus estoques de açúcar e álcool praticando preços inferiores aos custos de produção. Sendo assim haverá uma maior consolidação do setor, diferentemente do que ocorreu nos anos anteriores”, lembra João Carlos Marchesan.

O executivo aponta que os novos investidores e grupos tradicionais direcionarão o cultivo da cana-de-açúcar para regiões com áreas mais planas – principalmente em pastagens degradadas, onde será possível cada vez mais optar pela mecanização. “Grandes investidores como a ETH, Cosan, Brenco, Bunge, Dreyfus, entre outros, estão escolhendo as regiões de cerrado nos Estados de Goiás, Triangulo Mineiro e Mato Grosso do Sul, onde as condições climáticas favoráveis ao cultivo de cana de açúcar, a logística de transporte e sustentabilidade sócio-ambiental são propicias à viabilidade dos projetos”.

A implantação da colheita mecanizada não é tarefa tão simples – e vai muito além da substituição dos bóias-frias por colhedoras. Para alcançar resultados positivos, existe o cuidado com espaçamento no plantio, por exemplo, para evitar pisoteio da soqueira. A colheita exige a sincronia de todas as etapas da colheita – corte, carregamento e transporte. Outra questão que deve ser considerada é o corte de base na altura mais adequada – algumas usinas alegam que o corte abaixo dos 4 cm carrega junto uma quantidade excessiva de terra. “A tendência da cana-de-açúcar é ser quase que totalmente mecanizada. E a indústria vem respondendo à altura, fazendo máquinas para trabalhar em qualquer condição de terreno”, finaliza Celso Casale.

(Flávio Bosco)

Compra x conservação
Manutenção preventiva prolonga a vida útil de máquinas agrícolas, mas saber equalizar o custo benefício de um equipamento usado é fator determinante no momento da troca
Colheitadeiras em campo: Equipamento revisado e operador bem treinado gera ganho em produtividade

A busca por produções eficientes e safras ambientalmente corretas traz uma crescente mecanização na cadeia produtiva de açúcar e álcool. A utilização de máquinas na execução das mais variadas operações, desde o plantio até o produto final transportado à mesa do consumidor se renova numa velocidade tecnológica acelerada. Além da eficiência produtiva, essas máquinas, sejam tratores, colheitadeiras ou caminhões, devem também proporcionar conforto ao operador, permitindo aumento da capacidade individual de trabalho e ganho na produtividade.

A renovação da frota ou aquisição de novas máquinas, no entanto, é feita de forma equalizada, levando-se em conta uma série de fatores, que variam de empresa para empresa ou de grupo para grupo produtivo, de acordo com o grau de disponibilidade orçamentária para aquela determinada safra.

O potencial do parque fabril de máquinas agrícolas é o terceiro maior do Brasil e o nível da capacidade instalada também está em expansão, com 73,02% registrado no ano passado, com emprego de quase 43 mil pessoas no setor. No entanto, o uso de máquinas agrícolas exige uma série de cuidados, principalmente no manuseio e conservação corretas. Fatores importantes para um melhor rendimento que é determinante para o sucesso ou não da safra.

No caso de equipamentos novos, são detalhes que fazem a diferença entre este ou aquele fabricante – como o serviço de pós-venda, que vai muito além da venda, entrega ou garantia do produto. São serviços como treinamento do operador e assistência técnica permanente de fábrica, com utilização de peças originais, óleo lubrificante e combustível de qualidade.

Um novo equipamento sempre vem com um manual de instruções, onde se encontram esclarecidos, todos os procedimentos e aspectos relacionados à sua correta manutenção. Entretanto, nem sempre é dada a devida importância às informações ali contidas, sendo os manuais esquecidos ou simplesmente não lidos pelo operador ou responsável pelo maquinário. E isto faz a diferença não só durante o desempenho da máquina no campo, mas também podem ocorrer problemas que levam à necessidade de consertos frequentes, elevando de forma desnecessária o custo de manutenção. Caso o produto não venha com manual, o proprietário deve solicitá-lo junto à revenda ou o fabricante, ou mesmo se informar sobre as peculiaridades de um modelo semelhante.

Expostas aos mais variados tipos de solo e condições adversas de trabalho, mesmo os equipamentos mais novos e principalmente os usados, devem passar por checagem completa de alguns itens importantes antes do início do trabalho diário, seja no campo ou em oficinas instaladas nas propriedades.

Além do bom funcionamento a iniciativa visa identificar precocemente possíveis defeitos, antes mesmo que estes ocorram e possam gerar maior dano, tanto à máquina, como na produção. O mesmo vale para o fim da jornada de trabalho, que durante a safra pode ser de 20 a 24 horas ininterruptas. Na troca do turno se deve fazer uma revisão, serviços de ajustes, limpeza e até eliminação de algumas falhas. Lição de casa que o produtor Francisco Rodrigues, de Sertãozinho / SP, executa com tranquilidade todos os dias e sabe bem a diferença que faz para o bom funcionamento de suas máquinas.

Associado da Cooperativa dos Plantadores de Cana do Oeste de São Paulo – Coopercana, Rodrigues é agricultor e fornecedor de cana há mais de 50 anos, mas também cultiva amendoim e soja e optou pela manutenção para prolongar a vida útil das suas máquinas agrícolas. O conhecimento agrário e os cuidados com todos os equipamentos usados no trato cultural das lavouras aprendeu desde cedo com o pai Theodoro. “É preciso estar atento a todos os detalhes e a qualquer barulho diferente no trator, por exemplo, o tratorista é orientado a parar e verificar o que está acontecendo”, observa.

Para manter o trabalho em dia, nos 153 alqueires plantados, quatro tratores são usados nas lavouras, por quatro tratoristas, mas o produtor diz que inspeciona e acompanha o trabalho diário pessoalmente. Todos os funcionários, segundo ele, tiveram treinamento técnico para manusear e conduzir o trabalho de forma correta. “O zelo individual do trabalhador também faz a diferença na conservação dos equipamentos”, ressalta o produtor Rodrigues. Um dos tratores mais antigos é de 1982, e o mais novo adquirido em 2008 é um BH 165 usado para gradagem e subsolagem de solo.

Fiel a uma mesma marca, Rodrigues conta que para ele, além do preço, a capacidade, potência e a facilidade em acoplar diferentes implementos agrícolas são fatores determinantes na compra de um novo trator. “As máquinas mais modernas são versáteis, têm maior conforto para o tratorista, como direção hidráulica e ar condicionado, mas com cuidados permanentes conseguimos prolongar a vida útil de tratores mais antigos que desempenham suas funções no campo com a mesma qualidade”, enfatiza o produtor, que adotou uma lista de boas práticas.

Seus funcionários são orientados a fazer uma checagem diária de vários componentes como lubrificantes, filtros, óleo, correntes, pneus e bombas. Para quem está a quilômetros da área urbana, manter estoque de algumas peças de reposição pode ser decisivo para que a máquina não pare por muitas horas. “Máquina parada é prejuízo na certa”, assegura Rodrigues, que mantém na propriedade algumas peças e um bom relacionamento junto aos fornecedores.

Fator preponderante também para o presidente da Associação dos Fornecedores de Cana de Piracicaba – Afocapi e Centro Canagro, José Coral. A entidade agrega cinco mil fornecedores de cana e outros 8.500 ligados a Cooperativa dos Plantadores de Cana da Zona de Guariba – Coplana, que mantém oficina para a manutenção da sua própria frota e a de seus associados. Apesar de não ter muitos equipamentos desse porte em seus 130 alqueires de área plantados nas cidades de Piracicaba e Manduri, Coral reforça que a manutenção própria é fundamental para a sobrevivência dos produtores, principalmente os de pequeno porte. “Com os financiamentos cada vez mais escassos e burocráticos, manter a sobrevida das máquinas, principalmente os tratores é fundamental.”

(Mensagem Marketing e Comunicação)

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