Edição 116 – 2008

Construindo novos negócios

Com participação efetiva de demandas do setor sucroalcooleiro, mercado de máquinas para construção vive melhor momento dos últimos 20 anos
Divulgação Case
Máquina em operação no Brasil: mercado cresceu 53% de 2006 para o ano passado

Fabricante de máquinas de construção, a Case Construction participou em 2008 pela primeira vez da Agrishow Ribeirão Preto com a perspectiva inicial de vender 30 equipamentos, entre pás carregadeiras, escavadeiras hidráulicas e motoniveladoras. Baseou a projeção nos desempenhos observados em outras exposições agrícolas. Mas o resultado final surpreendeu a empresa, que detém 24% de participação no mercado brasileiro.

Apenas em negociações concretizadas durante o evento, a companhia comercializou 62 peças, no total aproximado de R$ 20 milhões. “Além disso, demos início a negócios que serão fechados futuramente, nos meses posteriores à feira”, prevê o diretor comercial da marca, Roque Reis.

O resultado verificado pela Case Construction na Agrishow é uma ilustração evidente do recente aquecimento do mercado de máquinas de construção no Brasil. Estimulada pelo aumento de investimentos em infra-estrutura, obras públicas, agronegócio e mineração, principalmente, a produção nacional de equipamentos atinge seus maiores números dos últimos 20 anos.

De 2003 para hoje, o setor cresce ininterruptamente. “Isso é inédito nos Brasil nas últimas quatro décadas. Esse mercado sempre foi marcado por oscilações, altos e baixos”, comenta o diretor comercial da New Holland Construction na América Latina, Gino Cucchiari.

O mercado de máquinas para construção cresceu 53% de 2006 para o ano passado – as vendas pularam de 7.700 unidades para 11.700. A indústria estima que ao final de 2008 os negócios aumentarão de 30% a 35%, ou seja, vendas totais de aproximadamente 15.500 maquinas. “Para o futuro acreditamos que continue a crescer até 2010 em um ritmo de 15% ao ano”, estima Reis.

Além do maior investimento em infra-estrutura nas cidades brasileiras entre obras particulares e públicas, o aumento é motivado pelo setor agrícola. “O mercado como um todo cresce. As áreas de construção civil e vendas para empresas de locação dominam o mercado. Mas a agricultura aumentou muito a sua participação. E muito do que se fala em agronegócio está dentro da locação”, explica Roque Reis.

Importância do agronegócio

Os dados mais atuais sobre participação de setores nas vendas são de 2006. As estatísticas mostram que, com 35% do total, o principal mercado demandante é o da construção civil. A locação (17%) e a venda direta ao governo (13%) para obras de infra-estrutura são o 2º e 3º colocados neste ranking.

Com 8% em 2006, o agronegócio aparece em quinto lugar na lista, atrás ainda de mineração (12%) e indústria (10%). “Mas isso foi em 2006, quando mercado agrícola voltava a crescer. Hoje, a agricultura deve ter entre 10% e 12% dentro da participação total”, acredita o diretor da Case Construction.

A retomada do agronegócio no Brasil é considerada fator fundamental para o incremento do mercado nos últimos anos. Para crescer, o agronegócio não pode prescindir das máquinas, que realizam serviços de manutenção, preparo de terra, carregamento de material, infra-estrutura em geral - são usadas até na produção.

Segundo Reis, o aumento recente foi motivado principalmente pela recuperação das áreas de soja do Mato Grosso MT, onde máquinas são muito utilizadas. Há grande uso de pás carregadeiras para movimentação de fertilizantes, trabalhos em estradas vicinais que dão acesso às propriedades rurais e também infra-estrutura nas fazendas.

Os especialistas também apontam o setor sucroalcooleiro como um dos setores da economia que tem influenciado o crescimento do mercado de máquinas de construção no Brasil. “A cana vem puxando fortemente: muitos investimentos vêm sendo feitos em novas usinas e ampliação das unidades já existentes e uma parte dos recursos é aplicada em máquina de construção”, esclarece Reis.

Se comparado a 2006, o segmento sucroalccoleiro consumiu 60% mais equipamentos de construção no ano passado – o uso destas máquinas no setor está em franco crescimento. “A cultura da cana se expande vertiginosamente em São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas e Goiás. A presença hoje é importante, mas o potencial futuro é ainda mais”, complementa Cucchiari.

Divulgação
Case pá-carregadeira faz curvas de nível: nova função

Aplicações no setor sucroalcooleiro

Além da construção de novas usinas, o setor intensifica aplicações historicamente não utilizadas.Os serviços realizados eram abertura de novas fronteiras, na década de 70, e subsolagem, atividade que demandava tratores de esteira. “Na época éramos presentes em todas as usinas para este serviço”, lembra o diretor da New Holland.

A partir da metade dos anos 90, com o relançamento do programa nacional do álcool, novas utilidades foram sendo descobertas. Hoje, pás-carregadeiras são utilizadas no carregamento de bagaço de cana-de-açúcar, motoniveladoras realizam serviços de manutenção estradas, para permitir trânsito fácil aos caminhões que transportam matéria-prima até a indústrias. Há ainda o uso de máquinas para serviços de infra-estrutura em geral.

Mais recentemente o setor começou a usar pás-carregadeiras para a elaboração de curvas de nível, durante o processo agrícola que antecede o plantio. “Algumas usinas estão iniciando a realização deste procedimento com escavadeiras. A metodologia é nova, mas resultados iniciais indicam boa produtividade”, afirma Reis.

De acordo com informação da New Holland, em um canavial, o solo geralmente é preparado com aração de 25 a 30 centímetros de profundidade e depois gradeado - o plantio deve ser feito nos sulcos e em terrenos inclinados – a aração é feita em curvas de nível.

Antigamente se usava tratores de esteira para a execução do trabalho de curva de nível, que são pontos da superfície do terreno com a mesma cota, ou seja, mesma altitude. “Esses pontos são marcados com estacas, em geral cerca de 20 m um do outro. A união desses pontos resulta numa linha chamada curva de nível”, explica o pesquisador Rubismar Stolf, do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de São Carlos.

Se for mal elaborado, o procedimento pode causar perda da qualidade e do rendimento das operaçõpes motomecanizadas seguintes – e consequentemente redução de produtividade agrícola para a usina.

Prestador de serviço de terraplanagem para usinas, o Grupo Andrela foi o pioneiro no uso de pás-carregadeiras para a elaboração de curvas de nível – também são os primeiros a testarem a utilização da escavadeira hidráulica para a mesma tarefa. Segundo resultados iniciais da empresa, divulgado pela New Holland, “uma pá-carregadeira produz por quatro tratores de esteiras. Uma escavadeira faz o trabalho de duas pás-carregadeiras”.

Segundo Roque Reis, o uso de escavadeira para curva de nível é recente, foi iniciado em 2007 e ainda não tem participação significativa nesse tipo de operação. Mas ele acredita que em breve a utilização de aumentar. “É uma migração, como aconteceu com as estradas. Antigamente, na abertura de novas rodovias, todos os cortes de morros eram feitos com tratores de esteira, que vem perdendo espaço para as escavadeiras”, compara.

Futuro do mercado

Com o crescimento projetado do mercado agrícola, as ações do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), lançado no começo do ano pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as perspectivas futuras para o mercado de máquinas são muito otimistas.

Apenas o PAC, estima investimentos na ordem R$ 140,8 bilhões em infra-estrutura nos próximos quatro anos. Para Reis, se o planejamento se concretizar o ciclo de crescimento do mercado terá continuidade a longo prazo. “O mercado como um todo cresce, não é uma demanda maior em um nicho específico”.

Embora a área de construção civil deva continuar liderando o ranking de vendas, o agronegócio, especialmente o setor sucroalcooleiro, que prevê dobrar a produção de cana até 2020, quando estima colher 1 bilhão de toneladas. “Próximos anos a participação agrícola vai crescer no mercado. Não vai ser tamanho de construção, porque país tem muito a se fazer em infra-estrutura. Mas, com incentivo ao biocombustível no mundo, a cana vai continuar contribuindo com o crescimento do mercado”, conclui Reis.


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