Edição 110 – 2007
Inimigo Natural
Lúpulo: antibiótico alternativo é produzido a partir da extração de CO2 contido na flor feminina
Restrito anteriormente a produtos químicos, mercado brasileiro começa a oferecer antibiótico extraído do lúpulo para controlar infecção bacteriana da fermentação do mosto de cana

A Usina Santa Helena, empresa do Grupo Cosan, localizada em Rio das Pedras/SP, começou a safra 07/08 com uma novidade na fermentação do mosto de cana. Para combater a contaminação bacteriana, a unidade está rotacionando a aplicação das fórmulas químicas tradicionais com um antibiótico natural recém lançado no Brasil, o Extrato de Lúpulo Beta Ácido 45%.

O antibiótico alternativo é produzido a partir da extração de CO2 contido na flor feminina do lúpulo. O produto contém predominantemente a fração β-ácidos naturais de extrato de lúpulos dissolvidos em Propileno Glicol de grau alimentício – é fornecido na forma líquida.

A Santa Helena testou o Beta Ácido durante quatro meses na temporada passada. A usina, que registra índice médio de contaminação de 1,0 x 106 bactérias/mL, conseguiu reduzir a infecção para 1,0 x 105 bactérias/mL em alguns dias usando produto. “O produto tem alta eficiência em combate de bactérias, comparável aos produtos químicos. Por isso, na safra atual estamos utilizando em escala industrial”, revela o encarregado de produção de álcool da Unidade, Marcos Prada.

Além da Santa Helena, outras quatro usinas brasileiras aplicam operacionalmente o Beta Ácido neste ciclo de moagem. “Mas várias outras unidades estão conduzindo testes de sensibilidade com o produto. A tendência é que o uso cresça gradativamente”, acredita o engenheiro de alimentos Fernando Feitosa, representante da Wallerstein, empresa que está distribuindo o produto no Brasil.

A Wallerstein aposta no oferecimento de uma opção natural, sem uso de produtos químicos na formulação, para conquistar o mercado. À estratégia já pode-se atribuir a conquista dos primeiros adeptos. Segundo Prada, da Santa Helena, a usina foi atraída para fazer testes no ano passado pela possibilidade de usar um antibiótico ecologicamente correto.

Beta Ácido

O que é:
• Produzido a partir de extrato CO2 de lúpulos
• Contém predominantemente a fração ácidos beta naturais
• Dissolvidos em propileno glicol de grau alimentício
• Ambos extrato de lúpulos e propileno glicol são classificados como GRAS.
• Deve ser alternado com outros produtos para evitar acumulação da resistência microbiológica

Fonte: Wallerstein

Fórmula natural

Não há registros exatos, mas a China é considerada o provável centro da origem do lúpulo. As glândulas lupulin presentes no cone da planta produzem dois tipos de resinas suaves: as frações Alfa Ácido e Beta Ácido.

Há 3.000 anos atrás, no Egito, se usavam lúpulos na produção de bebidas fermentadas. Documentos do ano 822 indicam a utilização da planta na produção de cerveja por monges na Europa. A fração Alfa Ácido é há muito tempo utilizada na fabricação da bebida – a indústria cervejeira atestou que a utilização do lúpulo trazia estabilidade microbiológica ao processo de fermentação.

Além de reduzir as infecções bacterianas, o Alfa Ácido oferece o amargor para a cerveja em todo o mundo. Em alguns países da Europa, a fração Beta Ácido é usada para inibir o crescimento bacteriano em processamento de açúcar de beterraba e como um agente de proteção para produtos avícolas não cozidos.

No Brasil, o Extrato de Lúpulo é aplicado apenas na fabricação de cerveja, exclusivamente por meio da fração Alfa Ácido. O Beta Ácido é um produto totalmente novo no País, assim como seu uso em fermentação alcoólica das usinas de cana-de-açúcar – procedimento jamais adotado em todo o mundo.

A Wallerstein (representante da Hopsteiner, empresa norte-americana que produz o Extrato de Lúpulo Beta Ácido 45%) realizou em parceria com a consultoria brasileira Fermentec estudos e testes com o produto na fermentação alcoólica de usinas do Brasil.

O produto chega ao mercado após quatro anos de estudos, divididos em testes de laboratório, simulações industriais e fermentações reais dentro das usinas. O efeito da aplicação foi analisado em diferentes bactérias com diversas dosagens .

Os resultados mostraram que o Beta Ácido possui propriedades anti microbianas e são particularmente ativos contra bactérias Gram-positivas. As pesquisas também revelaram que a atividade contra bactérias Gram-negativas é insignificante. Outra descoberta indica que o produto não produz nenhum efeito maléfico na levedura.

Segundo o diretor-presidente da Fermentec, Henrique Amorim, o Beta Ácido age provocando um distúrbio na membrana da bactéria. Com isso, ela pára de fazer trocas com as enzimas permeases que absorvem o potássio, outros íons, compostos e aminoácidos. “O produto perturba a absorção e saída de cátions e pequenas moléculas. Faz uma confusão geral no metabolismo da bactéria por atacar a membrana”.

Para eliminar a bactéria, o Beta Ácido deve ser usado de acordo com algumas recomendações.

O fornecedor também preconiza o uso em sinergismo com os antibióticos já existentes, pois as bactérias são seres que criam resistência ao uso contínuo de um produto. Além disso, a usina precisa ter bom controle de temperatura, processo bem feito e assepsia correta.

Produto tem efeito apenas se aplicado para combater as bactérias Gram-positivas

Resultados industriais

Segundo Henrique Amorim, os resultados observados nos testes estão sendo reproduzidos nas usinas usuárias do produto em escala operacional. Além do controle bacteriano, o produto proporciona redução do gasto de ácido sulfúrico no tratamento do levedo e incremento no rendimento em etanol. “É similar aos melhores antibióticos químicos presentes hoje no mercado. A usina que está começando a usar não vai parar mais”, prevê.

É o caso da Destilaria Melhoramentos, situada em Jussara/PR, que começou a usar o produto nesta safra e já planeja aumentar as aplicações.

Consultada pela reportagem da Revista ALCOOLbrás no início de junho, a unidade tinha realizado quatro aplicações do produto (dosagem 10 ppm), quando os níveis de infecção atingiam 8,0 x 106 bactérias/mL . “Em um dia a contaminação foi reduzida para 5,0 x 105 bactérias/mL”, comenta o gerente de produção da Destilaria Melhoramentos, João Luiz Coelho.

Hoje, 25% do combate às bactérias na fermentação são realizados com o Beta Ácido. Conforme Coelho, o uso deve crescer, mas o aumento ainda está condicionado aos resultados, segundo os cálculos de custo/benefício.

De acordo com o gerente de produção, a tendência é de aumento das aplicações. “Testamos para aumentar as nossas alternativas no mercado. E tem funcionado muito bem, com ótimos resultados. Também apresenta duas novas vantagens: é natural e, por ser líquido, tem fácil manuseio”.

Segundo Feitosa, os resultados parciais de pós comercialização também atestam a aprovação do produto. “As usinas que estão comprando, estão fazendo novos pedidos. Isso nos faz crer que o resultado está positivo e as vendas irão aumentar”.

Por ser um produto natural, a tendência de uso mais freqüente indica sobretudo demanda nas usinas que secam levedura comercializada como ração animal. O Extrato de Lúpulos e o Propileno Glicol utilizado para diluir o produto possuem certificado GRAS (Generally recognized as Safe; FDA), que atesta a possibilidade de consumo alimentício por animais ou seres humanos.

O custo, fator que poderia limitar o crescimento das aplicações, é considerado pelo fornecedor semelhante ao valor de mercado dos principais antibióticos químicos oferecidos no Brasil.

O produto é, a princípio, importado dos Estados Unidos, mas a Wallerstein a possibilidade de fazer a industrialização no Brasil, ou seja, adquirir a forma concentrada dos EUA e diluir o produto no País. “Faremos isso de acordo com aumento de demanda”, explica Feitosa.

Outra possibilidade de uso do Beta Ácido, já comum na Europa, é a aplicação na moenda ou no difusor para impedir contaminação de lactobacillus e impedir a formação de gomas. Mas ainda nenhuma das cinco usinas brasileiras usuárias testou o procedimento. De acordo com Henrique Amorim, este é um passo futuro, inerente ao processo de consolidação do produto, o que, em geral no setor sucroalcooleiro, demanda pelo menos cinco anos.

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