Edição 109 – 2007
As voltas que o rolamento dá
Rolamento: responsabilidade de fazer a planta industrial girar
Produto tradicionalmente descartado na entressafra, equipamento começa a ser valorizado com a extensão do período de colheita; usinas focam peças que suportem as novas exigências operacionais

No período de safra da cana-de-açúcar, a equipe do departamento de Plantão 24 horas da Durão Rolamentos, revendedora autorizada da SKF em Ribeirão Preto/SP, já se acostumou a interromper serviços na sede da empresa - ou momentos de lazer e descanso em casa – para atender emergências em usinas.

Um toque de telefone sinaliza ao Plantão que alguma usina está parada por problemas em rolamentos - o que significa prejuízos, multiplicados a cada hora de inatividade. Mas as chamadas nem sempre ocorrem em dias e horários convencionais. O alerta é comum em sábados, domingos, feriados e madrugadas.

Ao equipamento, considerado o fusível da máquina elétrica, é imposta a responsabilidade de fazer a planta industrial girar – qualquer falha relacionada à peça provoca parada na fábrica inteira.“Hoje o rolamento é fundamental em uma usina. Está presente em aplicações que não podem parar. É uma peça que requer muito cuidado”, frisa o gerente de manutenção industrial da Usina Santa Adélia, Antonio Sergio Saia.

Mesmo elevado a este nível de importância, o rolamento apresenta falhas prematuras com freqüência em usinas. As cinco principais causas dos problemas são montagem incorreta, lubrificação inadequada, mal-dimensionamento, contaminação e fadiga. “Isso acontece por que as usinas tradicionalmente utilizam pouco do que a tecnologia pode oferecer. Buscam muito reduzir o custo de aquisição. Deveriam visar a diminuição do custo total de manutenção”, argumenta o gerente comercial da Durão, Osvaldo Sant´anna.

Um recente movimento de mercado, porém, indica que os telefonemas no meio da madrugada devem diminuir. O aumento dos volumes de cana moídos e a extensão do período de safra têm requerido mudanças na aplicação e operação dos rolamentos nas usinas.

Antigamente, quando a safra era realizada em seis meses, o rolamento não era totalmente exigido. Na entressafra, a usina desmontava toda a planta industrial para manutenção – e substituía quase todos os rolamentos. “A usina colocava um produto de qualquer qualidade para durar apenas seis meses. Após o uso, trocava. Hoje, tem usina que trabalha 10 meses por ano e busca qualidade maior”, comenta o engenheiro da SKF Nelson Pereira, do departamento de açúcar e álcool da empresa.

Segundo os especialistas a necessidade de não desmontar o rolamento cresce desde a safra 03/04. As usinas atualmente precisam se equipar com tecnologia para manter os equipamentos em atividade por mais tempo. Muitas unidades passam a priorizar rolamentos que garantam durabilidade e resistência ininterrupta durante a temporada de processamento.

Segundo o engenheiro de aplicação da NSK, Danilo Racy, as usinas enxergam os gastos e as perdas que um problema no rolamento provoca, em detrimento da antiga análise de custo unitário da peça. “Empresas que trabalham em tempo integral não têm como recuperar prejuízos que podem chegar a R$ 2 milhões por minuto. O cliente quer produzir mais. Há uma exigência agora do mercado para que o rolamento não quebre.”.

Falhas prematuras

As principais causas nos rolamentos são*:
• Lubrificação inadequada: 36%
• Vibração do equipamento (fadiga): 34%
• Montagem incorreta: 16%
• Contaminação: 14%

* Indústria em geral
Fonte: SKF

Técnicas de manutenção mais apuradas

Além do uso de equipamentos de melhor qualidade, a maior produção também demanda mais cuidados. A melhoria de técnicas de manutenção se torna imprescindível para a extensão da vida útil do rolamento.

O engenheiro João Cavalcanti Martins, da SKF, calcula que uma usina gasta atualmente com rolamentos de R$ 0,15 a R$ 0,20 por tonelada de cana esmagada. Estudos preliminares da empresa calculam que, com a união de tecnologia e manutenção adequada, este valor pode chegar a R$ 0,12. Neste contexto, uma unidade que processa 3 milhões de toneladas por safra poderia economizar de R$ 90 mil a R$ 240 mil a cada temporada – sem considerar os valores preservados com a redução de paradas.

Para isso, é preciso investir na causa dos problemas. Segundo Pereira, dos cinco maiores fatores que influenciam a quebra de rolamentos, quatro são muito evidentes em usinas: lubrificação (vilão principal), fadiga, montagem e contaminação.

Aumento de safra de 6 para 10 meses por ano: busca por qualidade maior em rolamentos
De acordo com cálculos da Durão Rolamentos, poucas usinas alcançam 100% da vida útil de um rolamento, mesmo que o equipamento seja fabricado com a melhor tecnologia disponível no mercado. “Hoje, em média, são usados aproximadamente de 30% a 40% da vida útil. A usina tem alta tecnologia, mas não tem manutenção do mesmo nível”, confirma Osvaldo Sant´anna.

Para que a vida nominal do rolamento seja atingida, é necessária a adoção dos procedimentos de manuseio, armazenagem, montagem, lubrificação e vedação recomendados pelos fabricantes. “Se fizer tudo corretamente, a vida útil chega próximo à calculada em laboratório”, completa Nelson Pereira, da SKF.

A própria equação de cálculo de vida útil do rolamento mudou. A fórmula, antes obtida por análises de carga de trabalho e rotação, considera atualmente novos critérios, oficializados em junho de 2006 pela a ISO (International Standard Organization).

De acordo com a nova norma, ISO 281, o limite de fadiga passou a ser o fator de maior influência na vida útil dos rolamentos – a determinação também começou a examinar as condições de lubrificação e contaminação.

Giro no orçamento

A união de tecnologia e manutenção adequada podem reduzir os custos nas usinas
Gasto atual:
- de R$ 0,15 a R$ 0,20 por tonelada de cana esmagada
- R$ 450 mil a R$ 600 mil a cada 3 milhões de toneladas

Possibilidade:
- R$ 0,12 por tonelada de cana esmagada
- R$ 360 mil a cada 3 milhões de toneladas

ECONOMIA: de R$ 90 mil a R$ 240 mil

Fonte: SKF

Risco zero

As análises constantes e a antecipação aos problemas dos rolamentos são considerados fatores decisivos para a produtividade – tornam-se também demandas de competitividade. Estas ações, entretanto, dependem de capacitação de profissionais e sistemas eficientes de manutenção. “De uma maneira geral, as usinas não têm essas informações adequadamente para evitar falhas prematuras. Hoje o nível de manutenção e a qualidade de treinamentos que as empresas têm não dominam muito os rolamentos”, reitera o coordenador do NSK Service (serviço de assistência técnica), Renato Carqueijo.

Segundo os especialistas, com as novas exigências de trabalho atualmente há uma mudança de cultura geral no setor. Muitas usinas já estão migrando da manutenção corretiva total para técnicas preventivas, preditivas e até pró-ativas. As unidades melhor preparadas identificam o problema com antecedência, programam paradas para reparos e combatem a causa raiz, nem sempre relacionada a um defeito do rolamento – um desalinhamento, por exemplo, pode ser a origem da imperfeição.

Com uso de técnicas preventivas, preditivas e pró-ativas, a Usina Santa Cândida tem conseguido reduzir a troca de todos os rolamentos na entressafra. A prática ainda não foi completamente extinta na unidade, mas os produtos aplicados nos principais equipamentos – picador, desfibrador, gerador, caldeira, entre outros – são substituídos entre duas e cinco safras.

Segundo o coordenador manutenção e extração da usina, Antonio Carlos Viesser, os resultados começaram a surgir há cinco anos, após a implantação das técnicas mais modernas de manutenção. A inspeção dos rolamentos é realizada diariamente pelos operadores da empresa, que checam entre outros os níveis de temperatura, lubrificação e ruído dos equipamentos. Uma vez por mês uma empresa terceirizada presta serviços de análise de vibração.

Quando ocorre uma quebra, a usina promove uma análise de falhas, procedimento geralmente realizado em parceria com a empresa fabricante do rolamento. “A principal vantagem é antever os problemas, evitando custos maiores de manutenção e parada indesejada de produção, esta a mais dolosa”, afirma Viesser.

Exigência atual:

- Maior durabilidade
- Maior disponibilidade do equipamento
- Redução de paradas
- Resistência ininterrupta durante a safra
- Diminuição de reposições prematuras
- Maior eficiência, produtividade e lucratividade

Fonte: SKF, usinas, NSK, Durão Rolamentos

A correta conservação possibilita à Santa Cândida o aumento de vida útil dos seus rolamentos. Na safra passada, a unidade repotencializou todos os produtos aplicados em redutor (Torquimax A 60). Após 10 anos de uso, a usina fez uma análise quando as peças atingiram 50 mil horas de trabalho, tempo de uso especificado pelo fabricante.

Mas como os rolamentos estavam bem conservados não foi preciso trocá-los. “O valor da troca por novos seria de R$ 260 mil. Como haviam feito o trabalho de pró-ativa, a usina gastou R$ 104 mil e poderá usar novamente por 80 mil horas de trabalho”, revela Osvaldo Sant´anna, da Durão, empresa responsável pelo trabalho.

De acordo com Sant´anna, o repotenciamento pode ser feito até quatro vezes em um rolamento antes da troca. Mas, para passar pelo processo, a peça precisa apresentar apenas o desgaste natural de trabalho, situação obtida com controle rigoroso da manutenção.

O uso de métodos preditivos também ofereceu aumento de vida útil aos rolamentos usados pela Usina Santa Adélia, que adotou a técnica há seis anos. A unidade realiza análise de vibração continuamente, on line, em alguns equipamentos considerados muito importantes ao processo – caso do gerador. Em outras máquinas – como caldeira, moenda, equipamentos de preparo – a medição é feita mensalmente por meio de um aparelho portátil.

Segundo Antonio Sergio Saia, quando uma usina faz apenas a manutenção preventiva, estabelece um tempo para trocar o rolamento, mas pode substituir um equipamento que ainda tem vida útil disponível. “Com as técnicas preditivas, temos conseguido alcançar a vida útil nominal de alguns rolamentos, além de ser um método economicamente mais viável”.

LEIA A MATÉRIA NA ÍNTEGRA NA EDIÇÃO IMPRESSA

Desejando saber mais sobre a matéria: redacao@editoravalete.com.br
NA EDIÇÃO IMPRESSA

• Matéria de Capa
Visita do presidente americano aumenta visibilidade do álcool brasileiro no mercado internacional. Apesar de aproximação, barreiras tarifárias ao etanol nacional devem se manter até 2009
A industria petroquimica já começa a fazer as contas - e a se preparar tecnologicamente - para utilizar biomassa, óleos vegetais e etanol como matéria-prima. E a alcoolquimica, que reinou soberana na primeira metade do século passado até ser engolida pela competitividade do petróleo, se mostra como a rota pronta para retomar seu posto
Primeira feira do ano, Feicana/Feibio mostra que 2007 reserva grandes perspectivas para o setor sucroalcooleiro
 

z