Edição 109 – 2007
A Matemática da Cana

Divulgação/John Deere
Colheita mecanizada: tecnologia dominada, mas indicadores de perda e desempenho a serem controlados
Não são apenas as operações de soma e multiplicação que dominam as contas das usinas. Na mecanização do campo a subtração de custos tem sido busca constante

As máquinas calculadoras das usinas estão se acostumando às operações de adição e multiplicação. O segmento tem que somar 240 milhões de toneladas de cana, elevar a produção de álcool para 35,7 bilhões de litros, incrementar a exportação de açúcar para 27 milhões de toneladas e acrescentar 4,5 milhões hectares à área plantada – todos esses índices até 2012. Mas para contar os lucros previstos nas suas caixas registradoras, o setor investe com maior consistência nas equações de subtração, calculadas como resultados para redução de perdas e diminuição de custos.

Segundo o Ministério da Agricultura, o Brasil possui atualmente 350 usinas operando, 50 em implantação e 57 unidades em projetos de consulta – o boom de novos empreendimentos não deve se restringir a esses números, estimam especialistas do setor.

A Unica calcula investimentos de US$ 14 bilhões nos próximos seis anos, capital suficiente para aumentar a produção brasileira de cana das 460 milhões de toneladas previstas em 2007 para 700 milhões de toneladas safra 12/13. Com este volume de matéria-prima o Brasil elevar a produção de etanol dos atuais 17,5 bilhões para 35,7 bilhões de litros – aproximadamente 20% serão voltados para o mercado externo.

A demanda mundial por álcool será de 79,4 bilhões de litros/ano em 2010. Para abastecer 5% do mercado mundial de álcool combustível, o Brasil precisará aumentar a produção atual de etanol em seis vezes até alcançar 100 bilhões de litros. O dobro desse volume seria necessário para substituir 10% do consumo mundial de gasolina.

Outros países – sobretudo Estados Unidos, África, China, Índia – já investem neste nicho e se organizam para ter a sua fatia do mercado. O diretor-superintendente da Usina Campestre, Fernando Perri, declarou recentemente durante um seminário em Ribeirão Preto que, para aproveitar seu espaço o Brasil precisa definir estratégias e analisar a cadeia produtiva. “O mercado terá competitividade acirrada. É preciso ter liderança de custo. Somos uma indústria de custos”.

Atualmente, a matéria-prima corresponde em média entre 35% e 40 % dos custos de uma usina de açúcar e álcool. “O desenvolvimento e o sucesso do Brasil dependerão de como o país vai utilizar um de seus bens mais preciosos: a terra”, acredita o consultor Dib Nunes, diretor do Grupo Idea.

Essas perspectivas aumentaram a preocupação do setor em reduzir custos, situação que, aliada à falta de mão-de-obra, privilegia a mecanização das lavouras, principalmente da colheita, processo tecnológico já dominado pelas usinas brasileiras. “Tudo que se mecaniza tem redução de custo”, frisa o pesquisador Tomaz Caetano Ripoli, professor da Esalq/USP.

Segundo estudos realizados por usinas e consultorias especializadas no setor sucroalcooleiro, as operações de corte, carregamento e transporte representam aproximadamente 25% do custo da tonelada da cana, ou o valor equivalente a 10% da saca de açúcar de 50kg.

Os principais vetores para a mecanização são o aumento da área plantada e a redução da mão-de-obra disponível, mas a economia de recursos proporcionada pelo método também ajuda na disseminação da tecnologia. A empresa que tem a colheita mecanizada implantada com eficiência já consegue ter seu custo de corte mecânico mais barato, comparado ao manual, em até 60%.

Wilson Konrad/Massey Ferguson
Linha de montagem em fábrica de tratores: fila de espera dura até quatro meses
A Usina São Martinho se encaixa nesse contexto de redução de custos e eficiência. Recentemente duas máquinas da empresa, marca Case IH modelo A7700, alcançaram juntas a marca de 5.511 toneladas colhidas em 24 horas. Uma colheu 2.667 toneladas e a outra, 2.844. O número é recorde mundial.

Já perseguida desde a desregulamentação do setor, a redução de custos tornou-se imperativa com a tendência de aumento de custos provocada pela alta na demanda por máquinas agrícolas. Os incrementos de produção estimulados pelas perspectivas de mercado estão provocando aquisições de caminhões, tratores, colhedoras e peças para esses equipamentos em números recordes – com isso, os prazos de entregas destes equipamentos aumentaram para até seis meses.

De acordo com representantes do setor sucroalcooleiro, esse aumento de procura provocou alguns reajustes nos preços das máquinas e levou as usinas de encontro à lei mais antiga de mercado: oferta e procura. “Hoje muitas empresas estão precisando do produto com urgência. E acabam priorizando prazo de entrega em detrimento até de preço. Isso leva a uma demanda super aquecida e conseqüente aumento de custos de aquisição”, define o gerente de oficina da Usina Nova América, Luís Bellini, coordenador do Grupo de Motomecanização (GMEC).

Divulgação/Volvo
A matéria-prima corresponde entre 35% e 40% dos custos de uma usina de açúcar e álcool
Máximo proveito

Mas além de programação prévia para comprar equipamentos sem enfrentar a lei de oferta e procura, o setor deve estar atento a alguns detalhes para reduzir mais custos por meio da mecanização e melhorar a eficiência da operação. “Podemos considerar que a tecnologia de colheita mecanizada está dominada no Brasil. “O equipamento está sob controle. Não tem mais receita de bolo. Agora temos que fazer a lição de casa: transformar o nosso conhecimento em resultado”, diz o gerente de motomecanização da Usina São João de Araras, Humberto Carrara.

Para ele, com a tecnologia controlada, o setor precisa medir seus processos com maior eficácia e avaliar seus indicadores para restringir perdas e avaliar os limitantes de rendimento - para extrair o máximo do sistema.

Segundo o especialista, a busca agora passa a ser a máxima qualidade da operação. Carrara recomenda que as usinas fiquem atentas a dois indicadores: a disponibilidade mecânica da colhedora e quanto a operação consegue extrair desse equipamento.

Atualmente, as usinas brasileiras registram em média entre 85% e 87% de disponibilidade mecânica e de 49% a 53% de eficiência operacional. “Veja a que distância estamos de um ideal. Temos ainda um grande caminho a percorrer”, avalia Carrara.

A disponibilidade mecânica do equipamento é o índice que mede quanto tempo das 24 horas do dia a usina consegue usufruir desse equipamento para a operação.

De acordo com Carrara, para conseguir aumento desse indicador a usina deve investir em mecanismos preventivos à quebra com objetivo de reduzir ou até mesmo eliminar os defeitos.

A robustez e a “servicibilidade” do equipamento, além de suprimento de peças e assistência técnica precisa, também são quesitos considerados fundamentais para a redução de paradas. “Esse resultado só é possível com preparação de pessoal, operadores treinados para a máquina não quebrar e mecânicos preparados para consertar todos os problemas de uma só vez com agilidade”, argumenta o especialista.

Outro indicador, a extração máxima do equipamento, é decorrente do primeiro e avalia qual é a eficiência operacional da máquina em trabalho, mostra quanto a usina está conseguindo aproveitar do material que a mecânica disponibilizou – mede o volume aproveitado de tempo efetivamente em operação após a liberação para o uso no campo.

Segundo Carrara, este indicador demanda preparação correta do canavial, lay out de plantio adequado, sistematização de terreno apropriada, logística de colheita bem planejada, um perfeito balanço e entrosamento de todos os recursos de uma frente de colheita (colhedoras, transbordo e transporte). “Se a usina conseguir otimizar esses dois indicadores, vai conseguir tirar o máximo do seu equipamento”.

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